
O livro “A Herança”, de Ellen Pestili, apareceu aqui em casa por meio da minha filha Mariana. Na escola onde ela estuda, há um projeto chamado Roda de Leitura. Toda semana, ela traz um livro para casa, lê conosco e, depois, preenche uma ficha no caderno de redação antes de devolvê-lo.
Naquela semana, o livro escolhido foi “A Herança”. Comecei a leitura com ela e isso me tocou profundamente pois, para minha surpresa, o tema central da história era exatamente o assunto que eu e André havíamos conversado naquela mesmo dia: que tipo de vida queremos construir com nossos filhos? Que lembranças queremos deixar? Qual será, afinal, a nossa herança?
O livro conta a história de papai Bife e mamãe Bisteca, que viviam uma rotina equilibrada com os filhos, Sapeca e Espoleta. Eles trabalhavam, sim, mas também tinham tempo para brincar, estar presentes e cultivar memórias afetivas em família. Até que, um dia, papai Bife acorda com a inquietação de que precisava ficar rico para deixar algo valioso para seus filhos. E então tudo muda: mais horas de trabalho, menos tempo em casa, menos presença, menos vida em família.
A história é contada de forma leve, acessível e divertida para as crianças, mas a reflexão que ela traz é profunda. Nós pais temos que pensar: quanto vale o nosso tempo? Quanto custa estar presente? Será que estamos buscando o tipo certo de herança?
André sempre foi muito presente: brinca de boneca e inventa histórias com a Mariana, joga Pokémon com o Davi e maratona séries com a Luana. Eu gosto de assistir filmes e séries com eles, de estar por perto. Mas confesso que, às vezes, me vejo envolvida com os meus projetos e o trabalho doméstico que acabo deixando-os mais tempo nos eletrônicos, e esse livro me fez refletir sobre o que deve ser prioridade na minha vida.
Muitas vezes entramos naquela armadilha silenciosa de achar que precisamos trabalhar mais para dar uma boa educação, proporcionar conforto, comprar objetos que acreditamos ser importantes para as crianças. E sim, tudo isso tem seu valor. Mas, no fundo, o que realmente marca — o que fica para sempre — é o tempo que compartilhamos com elas. É o afeto, a escuta, a presença diária.
Assim como papai Bife e mamãe Bisteca descobriram, a maior herança que podemos deixar para nossos filhos não está nas coisas, mas nos momentos. Nos filmes que assistimos juntos, nos jogos, nos passeios no parque e de bicicleta, nos acampamentos, nas memórias que ficarão para sempre, essa é a verdadeira herança.
Esse livro, embora simples à primeira vista, me fez parar. Respirar fundo. E repensar. O que estou construindo com minha família? O que estou deixando? O que realmente importa no fim do dia?
E é isso que eu te convido a fazer também. Leia esse livro, olhe ao redor e se pergunte: qual é a herança que eu estou deixando?



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